EU GOSTO DE JARDINS TRANSPARENTES
Eu Gosto de Jardins Transparentes
de Bernardo Pinto de Almeida / João Jacinto
João Jacinto é hoje, decerto, dos nomes mais relevantes quando se considera o contexto vasto da chamada arte portuguesa contemporânea. Autor de obra consistente e múltipla que, desde certa margem, ganhou visibilidade própria, destacada e mesmo referencial,foi-se tornando aos poucos no que vulgarmente se designa um artista de culto…
… Quero dizer, um artista cujo reconhecimento mais forte se vai construindo quase secretamente, assente em pressupostos próprios e, sobretudo, sem que essa margem, forjada em certa obscuridade a partir da qual opera, e em que a obra discretamente se vai desenvolvendo, se tenha dissolvido, e que antes, ao contrário, se reforça como signo do singular.Assim, justamente, e sobretudo no seu caso, porque a obra insiste nesse ir ao encontro de um conjunto de temas e de formas, de processos e modos de invenção plástica — roubando o termo a Francis Bacon — que, por si mesmos, bastam para chamar a si um conjunto singular de espectadores, que fazem uma comunidade à parte dentro do grande, enorme teatro em que se jogam os múltiplos destinos da arte actual. E, como acontece com todos aqueles cuja obra resiste aos sinais e modos mais evidentes do seu tempo — de que, por isso mesmo, se separa, fugindo à grande uniformidade que assiste aos casos de sucesso e de mediatização que garantem visibilidades rapidamente destinadas ao desgaste e à usura do tempo, factores que lhe são de algum modo indiferentes por não trabalhar na ânsia de um apressado reconhecimento — a sua desenvolve-se, afirmativa mas solitariamente, e os seus espectadores vão encontrá-la cúmplices, também porque desse modo não cumprem acto de submissão ao gosto dominante do tempo.[Bernardo Pinto de Almeida]Este livro foi publicado por ocasião da exposição, Eu gosto de jardins transparentes, realizada na Galeria Sete – Arte Contemporânea, em Coimbra, de 7 de Maio a 11 de Junho de 2022